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Aclyse de Mattos, um poeta do povo

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Escritor cuiabano é eleito para a Academia Brasileira de Letras

Aclyse de Mattos, nascido em Cuiabá, Mato Grosso, no ano de 1959, professor da Faculdade de Comunicação e Artes da Universidade Federal de Mato Grosso, mestre pela Escola de Comunicação e Artes da USP e doutorando pela Universidade Federal de Minas Gerais, é o mais novo eleito para ocupar a cadeira de número 3 da Academia Mato-grossense de Letras. Sua biografia conta com seis livros, sendo o mais recente de nome “Festa”. Veja a seguir a entrevista:

Acervo pessoal

1- O que a cadeira na academia mato-grossense de letras significa para você?

Uma felicidade e uma honra. Um sinal de reconhecimento por toda uma vida criando e escrevendo, e a possibilidade de conversas e ações sobre poesia, literatura, cultura e história com muitos outros autores interessantes. Sempre com a ideia de compartilhar com a sociedade, as escolas e novos autores.

2- Como funciona a indicação para a academia de letras?

Os escritores se candidatam quando abre edital para preenchimento de alguma vaga. Então cada escritor tem que mostrar para os Acadêmicos a sua obra, escrever uma carta dizendo porque tem interesse e conversar com eles. Então, numa reunião específica ocorre uma eleição e o mais votado é eleito quando alcança o quórum necessário.

3- Em que ano foi escrito seu primeiro livro?

O ano de publicação de meu primeiro livro foi 1985 (Assalto a mão amada). Mas antes dele participei de revistas (não tinha internet nem blogs na época) e fiz uns folhetos com poemas que acabaram compondo o livro. Os primeiros poemas que foram publicados são de quando tinha uns 15 para 16 anos de idade. Vou escrevendo os poemas e quando eles formam uma constelação acho que o livro está pronto.

4- Qual dos seus livros é o seu preferido?

Cada livro é uma história e uma viagem emocional. Gosto da feitura física do livro: escolher papel, formato, diagramação, qual poema ficará ao lado de outro. Cada um tem seu universo, seu momento e seu sabor. Deixo aos leitores esse juízo. O que faço é não publicar aquilo que não me parece bom.

5- Qual dos seus livros você considera o mais importante?

Você só faz pergunta difícil?! O “Assalto a mão amada” é o mais experimental. Em “Papel Picado” trabalhei poemas super curtos. “Quem muito olha a lua...” talvez seja o mais bonito e que marca meu retorno a Cuiabá. Em “Festa” busquei as sonoridades e incluí as letras de algumas canções.

6- De onde provêm suas ideias para os livros?

Da vida, dos sonhos, das emoções, das memórias, de outras leituras, da magia oculta em algumas palavras, do amor, de não se conformar com certas situações, por estar feliz, por estar sombrio. Assim cada livro traz uma experiência que talvez valha a pena compartilhar.

7- Quais foram as dificuldades enfrentadas para poder lançar seus livros em MT?

Meus primeiros livros foram lançados primeiramente no Rio de Janeiro, onde estudava. E fiz por minha conta e risco. Saía falando poesia e vendendo os livros em barzinhos, recitais, teatros, universidades. Escrever e publicar não é tão difícil. Um pouco sim, mas o que é mais difícil é divulgar, fazer o livro chegar aos leitores. Acho que o gargalo é a distribuição e divulgação. Por exemplo, tenho um livro de contos ainda do tempo do Rio (O Sexofonista) que por não ser poesia nunca tinha oportunidade de ler em público, divulgar, então fazer o livro circular foi uma dificuldade.

8- Você pretende escrever mais livros?

Sim. Tenho alguns quase prontos. Outros sendo ilustrados. Acho que meu livro favorito é aquele que ainda estou escrevendo. Também sonho com um romance ambientado em Cuiabá no século XX.

9- Qual é a característica que você considera mais importante em um escritor?

Criatividade, uma escrita cativante, a capacidade de envolver e causar empatia, conseguir leveza e profundidade ao mesmo tempo. Adoro aquele livro do Ítalo Calvino “Seis propostas para o próximo milênio” em que ele descreve como seria a nova literatura.

10- Quais são seus autores preferidos?

Meu primeiro autor favorito foi Castro Alves. Depois vieram Camões (mais o lírico que o épico) Vinicius de Moraes, Fernando Pessoa, Lorca, Borges, Manuel Bandeira e Cecília Meireles. Mais numa ordem cronológica mesmo. Na prosa Garcia Marquez, Dostoievski, Cortázar, Guimarães Rosa. Vou ficar nos já passados para ninguém ficar com ciúmes porque tem muita gente boa atualmente.

11- Qual é o lema da sua vida?

Nunca pensei nisso. Acho que somos seres em constante mutação. Meu labor com a poesia é que as palavras às vezes são limitadas para expressar a complexidade dos sentimentos e situações. Fazer poesia é tentar expressões mais próximas, sabendo que sempre haverá uma distância entre, uma falta, uma carência de sentido.

12- O que você considera a sua maior conquista?

Ter sido pai é incomparável. Viver bem, feliz com a família. Cultivar a harmonia, a compreensão e a sensibilidade com as pessoas com quem convivo. E claro, ter mais tempo para ler e escrever.